sexta-feira, 23 de março de 2007

Escrevo de um bar.

Eu aqui e ela na mesa ao lado, vestida de preto. Posso levantar e me aproximar. Ela olha, sorri enquanto eu sinto frio. Não imagina que eu escreva certas coisas pra ela.
Talvez ela nem sorria pra mim e eu, tola que sou, aqui, sorrindo de volta. Baixando a cabeça tentando esconder as bochechas coradas. Sorrindo de lado, desviando o olhar.

Certa vez, no carnaval, eu a vi tão perto que meu coração pulou. Ela estava cheia de gente, de alegria. Mal olhava pros lados, mas meus olhos me puxaram à ela. No outro dia mesmo eu fui embora. Eu e meu um metro e meio. Ela não sabe que à conheço desde os quatorze.

Eu sentada na mesa do bar, fumando um cigarro, disfarçando o meu interesse nas suas vestes pretas, no baton vermelho, nas unhas curtas e no cabelo arrumado. Querendo poder sentar ao lado e falar sobre livros, cigarros, whisky's, amores e dores. Desta vez ela estava vazia, sozinha. Mas ela brilhava muito mais que outro dia. Talvez tristeza a deixe mais bonita... Um momento e comecei preferir à ela "feia".

Ela não chora, nunca chora. Ela escreve e pinta e só. Ela escreve sobre alguém, para alguém. Tudo o que arruma no papel tem destinatário, sem remetente. Ela não sabe que nos parecemos nisso. Não imagina que eu faça a mesma coisa. Ela suspira enquanto escreve, mas não chora.

O que nos afasta tanto é o implorar por beleza. Ela externa, eu interna.
Ela gosta das coisas vivas, do que se sobressai, que pode ser desejo dos outros.
Eu gosto de carinho, sentimento, vontade, desejo.
Ela quer imagem, cabelos e corpo.
Eu quero olhos, pele, toque, beijos.

Pronta para o enterro do amor. Ela se levantou e eu a observei. Ela não é do tipo que olha para trás.
Eu estava ao fundo. Fosse em um de meus sonhos, eu estaria na entrada, ela ao fundo e, quando fosse passar por mim, me deixaria um bilhete num guardanapo com seu telefone e um beijo. Mas não era.
Eu guardei cada detalhe. Cada delicado passo lento e desejei com todas as minhas forças que ela voltasse pra se despedir 'num beijo. Quando voltei a abrir os olhos ela havia virado a esquina e eu me encontrei, novamente sozinha, em um bar.

quinta-feira, 22 de março de 2007

mo-LE

Talvez eu esteja buscando esperanças fantasiadas de areia em meio a uma praia. Mesmo que eu veja que tudo, tudo escorre entre as mãos, pode existir um filtro que não te deixe escapar. Quem sabe eu queira te prender pra mim. Quem sabe?

Mesmo que eu diga não, se não olhar fixo pode ter certeza, é sim. Eu sou carente até a última taça de vinho, se me permitir até o último gole. Sou fraca para a bebida. Mentira, sou fraca para tantas coisas. Vinho é só e-xr-ótico.

Eu joguei fora a única coisa que não se encontra em liquidação nesta época, um coração. Amor já. Mas as lentes de aumento estão em promoção, talvez uma me ajude a encontrar na areia o amor camuflado de grão.

Sou caracol. Besta, pequeno e mole caracol. Quem me vê de fora tem nojo de mim, alguns medo. Alguns me comem, meu sentimento é lixo. Comem e jogam minha casca fora, minha casa. Sempre quando os vejo chegar perto me escondo dentro dela. E perto de ti, teu ego tão grande, eu mal respiro. Eu simplesmente me encolho e te deixo evitar. É puro desprezo, o troco bem dado. Pago caro, dei uma nota de cem e recebo um troco grande, mas não alto.

Do tipo que se leva pra um canto, passa uma conversa e acorda no outro dia em território estranho. Toda semana é um diferente. Minha mãe sempre disse pra eu dormir cedo, mas eu gosto da noite, do difícil e, às vezes, do fácil. Gosto de ter dona.

Eu sou um umano sem h, sou mulhe sem r e sou completa com um in.

terça-feira, 13 de março de 2007

M.

Hoje o dia amanheceu... triste e sem reação. Deveria ser um dia como eu, normal. Mas não, é impressionante como pequenas notícias que envolvem grandes nomes podem te matar um pouquinho.
Hoje um pedaço de mim morreu.

Já fazem cinco dias, no dia oito de março de dois mil e sete uma flor linda se desprendeu da árvore mas só fui avisada da missa do sétimo dia. Eu escrevo tremula. Os vitrais da minha janela estão secos. Se estivessem no meu coração já teriam se partido tamanho é o furacão que me atinge agora. Penso em mil e um motivos e abraços que eu fiquei de te dar.. palavras que eu podia ter dito. Mas eu só podia, eu não disse.

Meu choro envolve soluços, quem dera se soluços se transformassem em soluço(e)s. Eu sinto falta e dor, um aperto incomparável com qualquer um. Eu queria tanto poder tanta coisa. Tô tão confusa, imagino como tu devias estar.

Fica bem, minha menina doce do sorriso mais lindo.
Encontra teu caminho e faz dele luz, que sejas muito mais feliz do que fostes aqui.
Tu merece muito.

08/03/2007

domingo, 4 de março de 2007

avesso

Hoje o eclipse me tomou o tempo. Fiquei por horas, tonta, procurando a lua que se perdia em nuvens. Por fim, não vi a lua ser tomada por escuridão só pude avista-la quando já voltava seu brilho.

O céu da minha janela acompanha meu ritmo, anda cinza e sozinho, desacompanhado de estrelas. Outrora parecia tão amigável, bem acompanhado, cheio de pequenos pontos brilhantes por volta. A lua dançava radiante ao som de cadentes assovios. Ele clareava cedo e escurecia tarde.
Agora, apagado e sem ninguém, o céu chora todas as noites baixinho. Nas madrugadas, o pranto aumenta fazendo da solidão desespero. A lua só vai dormir às sete da manhã, quando o sol já bravo obriga ela a ir para a cama. Então, o dia clareia ainda nublado mas continua abafado sem poder contar seus segredos à ninguém.

Olho para baixo tentando achar algo que queira me ouvir. O telefone ainda toca, mas a ligação está cara, tudo muito rápido. As cartas que mando nunca recebem respostas. A não ser do meu Doce, ela não me deixa nunca.
A Doce mora longe, mas meu céu é o mesmo que o dela. O dela é mais gélido e tem mais estrelas, talvez. Porém não sei ainda o comprimento do seu cabelo nem a cor de seus olhos. Parte de tudo já tenho e ela já tem meu todo. Eu sei o endereço, o nome e o sobrenome.

Quando não consigo dormir procuro no vazio o escritor que reside em mim. Ele é mais velho e gosta de música calma. Me diz que escuta Adriana, Marisa, Enya e algo que tem Hermanos no nome. Ele deve ter por volta de 27 anos e me entende tão bem. Não tem nome e gosta de escrever cartas, mas eu não sei seu endereço. Só sei o comprimento dos seus cabelos e a cor dos seus olhos. Ele é uma das pessoas mais feias e nobres que conheço. Bela e Fera em um só corpo. E eu o amo, tanto...