quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Aos Amores

Bom dia, amor. Olha pra mim, não faz cara de nojo. A noite passada passou. Eu passei. Hoje é lembrança que fica, fixa mais que as boas.
Desculpa a letra torta e a caneta encarnada, não achei outra com a qual pudesse escrever. Continuas com a mania de guardar as falhadas ou sem tinta. Lembro-me do começo, nada mudou.

Olha, amor, quero que, acima de qualquer coisa, lembres do parque em que nos vimos. Da chuva que caiu no dia e também que não foi nem em um parque, nem de’baixo de água que nos encontramos pela primeira vez.

Veste esse casaco branco, te retira daqui. Dê-me as costas porque propostas não me colorem mais, amor. Tens a quem mais oferecer isso e aquilo e tudo que vem de ti como desculpa. Por que fizesse sentir-me tão culpada, partida a ponto de querer a morte por me ver tão impura? Como consegues ainda chorar na minha frente e pegar na minha mão?

Pega, amor, pega esses lírios, essas rosas e todas as vinte e quatro tulipas amarelas. Toma a cesta, os biscoitos e o bolo de manteiga. Engole teu chá envenenado de traição, tua saliva amarga e teu beijo seco. Junta tudo e leve até a menina da cidade vizinha. Leva contigo uma mecha do meu cabelo, um bilhete escrito em vermelho e um beijo rosado. Fecha os olhos, vira-te e sai. O trem parte em quinze minutos e não quero que fiques um a mais aqui.

Vê como chove de novo? O que te lembra? A primeira vez que nos vimos andávamos pela cidade, tu a cavalo, eu de pé descalço. Não chovia nem havia balanços. Era verde, tudo verde. Meu vestido arrastava a poeira no chão e meus cachos já escorriam pelas costas. Eu era nova, amor, e chovia dentro de mim. E tu tão branco e seco, nevavas.
Adeus, amor. Um beijo em tua testa e um aperto no peito. Obrigada por me fazer forte, por me secar por dentro. Desprendi-me da chuva, hoje floreio e talvez sinta falta, mas não sei se sofrerei. Amo-te.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

22/10/2007

Toma, aqui está a vida sem cor. Tudo de volta. O vazio, os tons e a inexistência. Inexistência de sentimentos que por ser tão sólida, me deixa sentimental.

Nos últimos dias tenho sentido uma vontade infinita de derramar rios de lágrimas. É um aperto, vácuo concreto dentro de mim. Eu não entendo. Pensei que, talvez, dessa vez eu conseguiria, porém continuo vazia.

Tenho tentado gostar, juro que me esforço. Quase que me bato para que essa indiferença saia de alguma forma, por algum poro, como uma impureza qualquer. Mas é em vão, eu sou vã.

Sinto-me feia e a TPM está longe de me servir como consolo. Estou do tamanho do mundo, um planeta sem magma, sem um pingo de calda ou recheio.

Por estar vazia, por não gostar de alguém, não deveria doer, mas dói. Tanto e ao mesmo tempo tão camuflado, escondido que eu não consigo sentir, ou chorar por isso.

Perdão complicar tanto. Não que eu não goste, eu gosto, porém me acostumei a ser eu, eu minha, sozinha. Sou auto-suficiente embora minha carência me consuma. Mas eu não a sinto também.